Home / Happy Life  / Geração Y: Reforma? Porque não gozá-la aos 35 e não aos 65?

Geração Y: Reforma? Porque não gozá-la aos 35 e não aos 65?

Ontem o Governo da República fez saber a sua nova proposta para o modelo de reforma que permite que pessoas com 60 anos e 48 anos de descontos para a segurança social se possam reforma. Não discutindo a importância da medida para algumas gerações a verdade é que isso sempre

Ontem o Governo da República fez saber a sua nova proposta para o modelo de reforma que permite que pessoas com 60 anos e 48 anos de descontos para a segurança social se possam reforma. Não discutindo a importância da medida para algumas gerações a verdade é que isso sempre implicará que a pessoa tenha começado a fazer descontos aos…12!

 

Para a geração Y – Pessoas que nasceram depois de 1980 – e também para muitas que nasceram antes, 48 anos de descontos, mesmo que se comece a trabalhar aos 16 significa reforma aos 64. Enfim centremo-nos na idade legal de reforma: 66 anos e 3 meses.

 

E existe uma boa razão para pensarmos que não vamos ter reforma nessa idade. Basta estudar um pouco o assunto: Em 1990 as contribuições das pessoas financiavam 85,3% do sistema de Segurança Social. Hoje, com o aumento da proteção social mas também com o número de anos que cada pessoa vive (e ainda bem!) depois da reforma as contribuições servem para financiar apenas 34,7% do sistema. O resto tem de vir de transferências do Orçamento do Estado. Numa ideia: Insustentabilidade. Teremos que sempre ir aumentando a idade legal da reforma.

 

Por outro lado um outro dado ainda mais preocupante: Enquanto em 1995 a esperança média de vida saudável aos 65 anos era de 8,3 anos. Hoje, em 2014 é de apenas 6,9 anos (somos dos países na Europa com um pior índice neste aspeto, longe, por exemplo, dos mais de 15 anos de esperança média de vida saudável aos 65 na Islândia ou na Noruega). O que quer dizer que uma pessoa que se reforme aos 66 anos e 3 meses terá, em média, menos de 6 anos de vida saudável – ou seja sem incapacidade física.

 

O meu problema nem sequer é acreditar que a geração Y terá ou não reformas. Acredito que sim. Mas prevejo que provavelmente essa reforma será já muito perto dos 70 anos o que não coincidindo com um aumento dessa esperança média de vida saudável vem retirar uma certa utilidade à reforma em termos de gozo.
E aqui entramos no problema que já falei tantas vezes! Da mesma maneira que trocamos cinco dias horríveis por um dia no fim-de-semana razoável e outro em sofrimento com a nova semana que se avizinha, no mesmo sentido que fazemos o pior negócio do mundo que são 11 meses de trabalho desmotivado pela cenoura que são 22 dias úteis de férias pagos (e acrescidos de um subsídio – é uma cenoura gorda, é verdade) também trocamos 40 anos de trabalho incessante por uma putativa reforma: Um momento onde vamos poder ter bastante tempo livre e algum rendimento.

 

Vários problemas: Nenhum de nós sabe sequer se chega à idade da reforma. Não controlamos a data da nossa morte. Pode ser bem antes disso. Pode ser aos 100. Não sabemos. Depois, em média, não teremos muito tempo de vida saudável depois da reforma – e pelos vistos será cada vez menos. E, por último, com exceção de um número reduzido de pessoas (algumas tenho o privilégio de conhecer – o meu tio Quim que me ganha fácil numa caminhada, ou a minha avó Guida que sobe mais rápido 5 lances de escadas que eu 1, só para exemplificar) aos 70 anos não temos propriamente a energia de ir fazer um mochilão à América do Sul. Dificilmente vamos escalar um Glaciar na Islândia ou fazer a Route 66.

 

E isto leva-nos a algo que começa a ser documentado em alguns livros de empreendedorismo (por exemplo “Semana de 4 horas” de Tim Ferriss) que é apostarmos em, pelo menos, minireformas durante o período de trabalho.

 

Quem não se libertar do trabalho por conta de outrem terá sempre maior dificuldade em implementar este modelo é certo – já conversámos e continuaremos a conversar sobre o propósito do empreendedorismo empresarial como nos deixando um passo mais próximo da felicidade (na minha opinião!). Mas de resto, acho perfeitamente exequível, trabalhar 9 meses e parar 3 meses. Ou trabalhar nos primeiros 15 dias de cada mês e nos últimos 15 dias do mês seguinte e parar consecutivamente um mês. Ou, simplesmente, procurar ter mais do que 22 dias seguidos de férias. Ir dois meses para a Islândia e viver como se fosse um local, pegar numa mochila e ir bater a América do Sul e ir dar uma volta a sério pela Ásia. Mini Reformas ao longo do tempo. Ou, em Portugal, ir passar dois meses num monte alentejano ou na Costa Vicentina.

 

Sobre isto normalmente a oposição que é feita ao viajar mais é o dinheiro. Uma história de um casal de franceses: Num determinado ano, largaram tudo, pegaram num barco à vela e foram velejar pelo mundo com a filha de sete anos. Mas a esposa traçou logo o desafio: Além de uma brutal experiência – uma mini reforma – temos que poupar e ganhar dinheiro. Não há doces para quem adivinhar. Gastaram muito menos nesse ano de expedição pelo mundo do que num ano a pagar casa, contas e refeições em Paris.

 

Imaginem que o vosso negócio se traduz em venda de produto. É exatamente igual em que parte do mundo vocês estão desde que tenham um computador debaixo do braço. Suponham que vendem o vosso produto no Reino Unido. Mas que vivem na Tailândia. Recebem em Libras e vivem com Baht. Quando estive lá há muitos anos atrás e levantei 30 euros falaram-me que correspondia ao ordenado médio de um tailandês.
O que é caro nas viagens é ir fazer a check list dos museus e das atrações turísticas. Não é viver nos sítios. Isso pode ser bem mais barato quando comparamos com Portugal.

 

Muitas pessoas vivem uma vida adiada. Vive semanas adiadas à espera do fim-de-semana, vivem anos adiados à espera das férias e carreiras adiadas à espera da reforma. Uma cultura sufocante de constante preparação: Estuda muito para entrar na Faculdade, estuda ainda mais para arranjares um estágio, esfola-te no estágio (mesmo que não remunerado) para ficares na firma, esforça-te que nem um louco nos próximos 15 a 20 anos para chegares a sócio/chefe e agora tens de dar o exemplo e trabalhar mais do que todos até para receberes ainda mais e teres uma boa reforma. Uma cultura de adiamento. De anulação de objetivos presentes em torno de uma hipótese de futuro. Se racionalmente pensarmos e nos perguntarem: Queres 5.000€/ano agora, ou queres 50 milhões de euros em cash aos 100 anos obviamente todos preferimos a primeira. Então porque fazemos isso em tudo o resto? Qual é o sentido de se andar por aí em modo walking dead durante um ano inteiro para depois ir 10 dias para um resort qualquer postar fotos no Facebook como senão houvesse amanhã? Além de todos os gastos estúpidos que temos por essa vida “esclavagista”. Quanto dinheiro gastamos em porcarias ao fim-de-semana porque “eu trabalho tanto, mereço isto”. Se juntássemos todos esses euros o que poderíamos fazer?

 

Há menos de 20 anos tínhamos o escudo. Há 15 começou a generalização da internet ou dos telemóveis. Há 8 o Facebook começou a aparecer a sério. Tudo mudou e num curto espaço de tempo. Porque é que esta geração continua a teimar em fazer tudo igual? Em manter os mesmos pressupostos? Porque é que continuamos a achar que tirar uma hora das 16h as 17h para ler um livro é um hobbie ou um luxo e não é algo vital? Porque é que achamos que dormir 8 horas é um luxo? Parece-me que é uma necessidade básica.

 

A proposta é mudarmos. Não amanhã. Mas hoje. E vivermos as coisas boas da vida hoje. Não amanhã. Hoje o “patrão” deu-me o dia. Apetecia-me ir passear com a Carolina (sobrinha). Ela teve um teatro na Escola e acabou por se adiar por isso o programa é “só” com a Mariana. Porque raio isto deve ser encarado como “ que sorte”, “que luxo”, ou até, “que preguiçoso?”. É suposto ir comer um peixe ao Baleal com a Mariana quando? Aos 70? Ou ir aos trampolins com a Carolina quando ela tiver 44? É suposto ter tempo para ler livros, ir ao cinema ou ir ao ginásio aos 70? Isso é luxo?

 

P.S. – Não falo de boca cheia. Corria o ano de 2013 (não foi assim há muito tempo) e no meu dia de aniversário estava a fazer aquilo que pomposamente se chama de “due diligence” numa firma de advogados, com uma lata de red bull à frente, fechado numa sala e sem que as pessoas que estavam a trabalhar comigo se tivessem lembrado que eu fazia anos. Claro que foi o primeiro e o último ano que isso aconteceu. Em 2014 tirei férias no dia e no dia anterior e em 2015 optei por um patrão que certamente não se esquece do meu aniversário.

tmgmendonca@gmail.com

Review overview
NO COMMENTS

POST A COMMENT