Lei de Parkinson e a razão pela qual nos fazem improdutivos!
Cyril Parkinson, um economista inglês do século XX (1909-1993) formulou aquela que viria a ficar conhecida como a Lei de Parkinson: “O trabalho aumenta de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização”. Ligado a isto está hoje provado que num trabalho típico de escritório o número máximo de horas
Cyril Parkinson, um economista inglês do século XX (1909-1993) formulou aquela que viria a ficar conhecida como a Lei de Parkinson:
“O trabalho aumenta de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização”.
Ligado a isto está hoje provado que num trabalho típico de escritório o número máximo de horas produtivas são 3 a cada 8. Ou, socorrendo-me novamente a grandes economistas, Vilfredo Pareto enunciou o agora muito citado princípio 80/20 segundo o qual (aplicando-o ao tema que estamos a conversar) 80% das coisas produtivas que fazemos advém de 20% do tempo que gastamos a produzir coisas.
Estou a ler um livro – “4 Horas por Semana” de Tomothy Ferriss – que muito pertinentemente questiona se seria possível que todas as pessoas do mundo precisassem das mesmíssimas 7/8 horas de escritório (o standard 9h-17h – de quem muita gente tem saudades, pois, no fundo, é mais 9h30-20h30) para produzir resultados idênticos. A resposta é obviamente negativa. Cada pessoa tem o seu ritmo, o seu método, a sua própria capacidade.
O problema é que de geração em geração passou-se uma ideia de que o “bom trabalhador” é aquele que trabalha muitas horas e, mais recentemente, que o “bom trabalhador” é aquele que passa muitas horas no escritório. Criou-se uma verdadeira ditadura do presencialismo.
Enfim, o bom trabalhador será aquele que anda de gravata mal abotoada, de telefone no ouvido, carregando resmas de papeis de importância duvidosa e que responde ao e-mail 5 minutos depois. O mau trabalhador será aquele que em quatro horas faz tudo aquilo que tem de fazer. E deve ser mesmo mau pois sofre um castigo: Já acabaste o teu trabalho? Então fica aqui mais quatro ou cinco horas a ver sites de jornais desportivos ou a descobrir se a gravata do colega é lilás ou roxo porque sair à hora de almoço é uma loucura.
Esta improdutividade para que nos empurram leva a que fiquemos treinados nisso. Em ser improdutivos. E isso leva a uma das piores características que alguém que quer empreender pode ter: Procrastinar. Normalmente amanhã é demasiado tarde. Se nós condescendemos e aceitamos que pode ficar para amanhã dificilmente vamos de facto completar essa tarefa.
Somos compelidos a entrar num raciocínio de adequação do trabalho que temos ao número de horas que nos exigem. E o que fazemos é trabalhar, não raras vezes, a um ritmo mais lento e improdutivo do que aquele a que deveríamos produzir. Não quer dizer que por vezes o resultado até não fique melhor do que aquele que ficaria com um 1/10 das horas investidas mas, certamente, não ficará 10 vezes melhor pelo que será sempre eficiente.
Acredito de facto, que 80% da qualidade de um trabalho fica resolvida em 20% do tempo. Os outros 20% – os acrescentos, os pormenores, as notas de rodapé, a pequena correção ortográfica – leva-nos a perder os demais 80%.
Num escritório as tarefas de revisão “assistida”, as reuniões sem interesse nenhum e os preciosismos sem utilidade prática minam 80% do tempo e nem sequer melhoram os resultados em 20%. Tenho a certeza que o trabalho ficaria melhor sem esses preciosíssimos mas com a motivação de se permitir ao trabalhador mais horas para se dedicar a outras coisas.
Eu próprio tenho uma história sobre isso. Em 2011 quando estava a escrever os meus relatórios de mestrado, tinha, grosso modu, 11 meses para a escrita de 3 relatórios. Economia Política, Mercados Financeiros e Análise Económica do Direito.
O primeiro levou-me cerca de 6 meses e teve sensivelmente 150 páginas. Um estudo comparativo das crises económicas ao longo dos séculos que me levou a concluir sobre a inevitabilidade cíclica da ocorrência de crises.
O segundo levou-me cerca de 4 meses: A concentração bancária em Portugal e todos os problemas de concorrência a esse nível.
O terceiro levou-me apenas um mês (sem contar com estudos, reflexões, seminários). A Análise Económica do Contrato de Maternidade de Substituição.
Nos primeiros tive tempo para tudo. Ajustei o meu trabalho ao tempo que tinha. No último, tinha que forçosamente concluir num mês e, como escreve o autor, concluí esse relatório com doses de cafeína que permitiriam desqualificar uma equipa olímpica!
16 valores no primeiro, 15 no segundo e…17 no último! E com o bónus de ter sido uma importante “semente” para a dissertação de mestrado onde obtive 18 valores.
A experiência que tenho é que no mercado de trabalho – ou em algumas empresas pelo menos (escritórios de advogados, consultoras, jornais) existem de facto picos onde é necessário o trabalhador exceder-se e talvez trabalhar umas boas 14 horas por dia. Mas existem muitos dias em que duas horas era mais do que suficiente ou até não ir. Qual seria a motivação de um trabalhador para fazer três noitadas seguidas e trabalhar 50 horas em três dias, se soubesse que, provavelmente a sua semana seguinte seria segunda e terça de gazeta, quarta de manhã livre e quinta e sexta com horários “normais”? Muito maior! Maior produtividade!
Isto leva-nos a um outro ponto que daria um outro texto. É que nos transformámos enquanto sociedade para uma cultura do parecer em detrimento do ser. Da aparência em detrimento dos resultados.
E é por isso que fica bem ficar até às 20h no escritório mesmo que não se tenha produzido absolutamente nada. Mas fica mal sair às 17h, quando se produziu seis horas de trabalho fantástico. É o que temos. Mas não temos de aceitar!