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As relações amorosas falham porque…tu tens culpa!

As relações amorosas falham porque…tu tens culpa!   A formulação da questão permitiria desenvolver quase uma tese de doutoramento.   Mas talvez, uma primeira resposta seja: Por tua culpa.    Sim, mesmo naqueles casos mais monstruosos em que parece que existe apenas um culpado, que provavelmente deveriam ser recambiado para uma prisão na Sibéria ao passo

As relaçõea amorosas falham

As relações amorosas falham porque…tu tens culpa!

 

A formulação da questão permitiria desenvolver quase uma tese de doutoramento.

 

Mas talvez, uma primeira resposta seja: Por tua culpa. 

 

Sim, mesmo naqueles casos mais monstruosos em que parece que existe apenas um culpado, que provavelmente deveriam ser recambiado para uma prisão na Sibéria ao passo que a outra pessoa deveria receber uma indemnização vitalícia por danos morais. E se o falhanço de uma relação tem sempre contributos próprios a não aprendizagem com esses erros torna o cenário ainda mais desolador.

 

Em primeiro lugar talvez fosse de esclarecer o que são relações amorosas: Não temos de pensar apenas em namoros ou casamentos. É tão legítima a opção de quem opta por relações de curta duração, múltiplas, com mais ou menos cor, do que quem opta por uma vida assente numa relação estável e duradoura.

 

Por vezes confundimos tudo: O problema não está em dizermos que a Maria que teve 10 parceiros no último mês e meio é uma galdéria ou que a quilometragem do Filipe é superior a de uma Ford Transit de 1991 (mesmo muito batida). É indiferente chamarmos a Maria de princesa, galdéria ou de smoothie de framboesa. É um nome. O que não podemos é atribuir menos direitos à Maria do que a Rute que tem o mesmo namorado há 10 anos.

 

Mas atenção: Não sejamos ingénuos nem hipócritas. A opção por cada um destes “campeonatos” tem, obviamente, consequências. Reputacionais, talvez. O ponto é que admitimos facilmente que quem “ingressa” no campeonato das relações duradouras emite uma sinalização negativa a potenciais parceiros nas relações de curta duração. Acho que já todos passámos por aquela situação em que somos abordados de forma mais ou menos insistente mas quando dizemos à pessoa que estamos comprometido a pessoa rapidamente se afasta. Mais: Se o namoro está perfeitamente sinalizado e já todas as pessoas conhecem essa relação provavelmente as abordagens vão sendo cada vez mais escassas. E nós, comunidade ocidental monogâmica, aceitamos isso muito bem. Achamos que isso é o normal. E é.

 

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Não percebo porque somos incapazes de fazer o raciocínio inverso e, mais que isso, ficamos muito exaltados quando o fazem: Alguém que se dedique bastante tempo no campeonato das relações ocasionais está mais longe do campeonato das relações amorosas. Não é discriminação nenhuma. É só porque os sinais emitidos durante meses ou anos vão num determinado sentido. Construíram uma reputação. Que não tem de ser má. Por isso, indo direto ao assunto: Cada vez que se investe no campeonato das relações ocasionais fica-se mais longe do campeonato das relações amorosas duradouras.

 

E podemos ir ainda mais fundo na questão: Mesmo quando a nossa ideia é entrar no campeonato das relações duradouras se emitirmos sinais contraditórios provavelmente ficamos mais longe dessa relação duradoura e não percebemos porquê. E aqui, as pessoas voltam a confundir tudo. Não tem mal nenhum que a Rita e o José decidam dar uma cambalhota no segundo encontro no banco de trás de um Renault Clio verde água. Está tudo bem. Deram a cambalhota hoje, depois de ontem, acidentalmente, se terem conhecido numa conferência qualquer.

 

Todos vão pensar: Huum, se o José está aqui, no segundo encontro – o primeiro possível – a ter uma relação sexual comigo, provavelmente fará isso com todas. É paradoxal, mas é assim. Talvez seja até estúpido. Mas muito rapidamente o José encaminhou-se para o campeonato das cambalhotas nos segundos encontros e não no campeonato dos namoros.

 
O que não tem mal algum: O campeonato dos namoros e dos casamentos tem um conjunto de vantagens: Estabilidade familiar, partilha de riscos, contas a meio, mais interações sociais, enfim, numa ideia mais romântica uma pessoa em todos os momentos e, para quem quer, a hipótese de constituir família a partir de uma base mais estável. O outro campeonato tem vantagens associadas à liberdade de não ter que controlar nenhum impulso e de fazer mais vezes o que dá na real gana sem grandes cedências. Melhor dos dois mundos: Isso é que não.

 

Voltando ao segundo encontro – e à cambalhota no Renault Clio – falemos de aleatoriedade. Não existe uma estatística, claro, mas um dos fatores que são mais atentatórias do início de relações estáveis é a ideia de que tudo começou por uma obra do acaso. Sim, claro que já todos lemos do casal X que se conheceu no Tinder e depois se casou. Mesmo que vivam felizes para sempre, se lemos isso, ou ouvimos isso é porque é notícia. Se é notícia é porque é uma raridade. Porquê que é uma raridade? Duas razões essenciais: O Tinder assume-se, claramente, como uma plataforma de engates sexuais e por isso a sua presença é quase um cartão a dizer não quero namorar. Se alguém vai lá com essa intenção, vai mal. E depois por esta ideia de ser aleatório: A verdade é que o ser humano, tem as suas inseguranças. E nunca vai deixar de pensar: Porquê eu? A menos que se ache, de facto, a última coca-cola do deserto.

 

Se eu for a caminho do escritório e a Sofia, que não conheço de lado algum, me sugerir uma cambalhota matutina, a primeira pergunta é: Porquê eu? Se ela me diz isto a mim, teria dito a qualquer outro tipo – ou quase – que passasse aqui a esta hora. Foi aleatório. Como ao tipo que mais rápido tivesse feito swipe no Tinder ou que se tivesse chegado à frente no Urban. É aleatório e por isso pouco compreensível para a mente humana. Não existiu um período, mesmo que rápido e intenso de conhecimento.

Mas 75% das pessoas que se casam divorciam-se. E algumas até estiveram neste campeonato das relações sérias. Muito bem. Porquê?

 

Porque as pessoas querem, simplesmente, que as outras as amem e com elas se relacionem por decreto-lei. Ai está a razão. Não creio que uma relação possa funcionar de forma feliz se existir tensão e contrariedade permanente.

As pessoas pensam, em geral, pouco no que interessa e muito no que não interessa. Acho imperioso que a pessoa tenham os seus próprios critérios. Em relação às relações e a tudo. As suas linhas vermelhas inultrapassáveis. É consigo. Ponto.

 

Não tem de estar a impedir que a outra pessoa ultrapasse essas linhas. Isso é estúpido, é hipócrita, é basear uma relação numa mentira e é prolongar uma agonia. Ah, e é perder tempo, em vistorias de telemóveis e redes sociais. É uma parvoíce. Quem quer trair, trai. Ponto final parágrafo. A única coisa que podemos fazer é ser os melhores dos melhores para a que pessoa tenha menos vontade de o fazer. Sim, disse menos vontade. O ser humano é racional, mas é emocional. E como 98% dos outros mamíferos tende para a poligamia. Sim, o teu namorado olhou mesmo para as pernas da nova colega e a tua namorada pensou que senão fosse ter namorado aquele surfista poderia ir surfar outras ondas. É normal e até saudável. Sim, não sejamos hipócritas, tem que existir uma opção racional, tomada com critério, sabendo das vantagens e desvantagens. Se tivermos a sorte de nos relacionarmos com pessoas honestas – e a honestidade puxa honestidade – a pessoa perceberá que não pode ter o melhor dos dois mundos e optará. Mas atenção: A certa altura poderá optar por mudar de campeonato. E isso não faz dela pior pessoa e condenável a prisão perpétua. É o normal. Nós só temos que fazer com que a pessoa não se sinta “para aí virada”.

 

Ver o telemóvel, controlar as redes sociais, proibir (lol) de ir sair ou de férias com as amigas normalmente é perda de tempo e fator de tensão na relação. Quebra de confiança. Nesse momento em que espiaste o telemóvel o teu Ricardo ficou mais próximo de ir ter com a Teresa. E não mais longe.

 

Para uma relação resultar, acredito que só num ambiente de plena liberdade e de respeito mútuo. Cada pessoa faz o que quer. O outro não tem nada a ver com isso. Caso tenha estabelecido as suas linhas vermelhas e critérios viverá sempre em paz. No dia em que a Joaninha passar essa linha vermelha a relação deve acabar. Com naturalidade e sem dramas. Possivelmente nunca ultrapassará a linha vermelha, é a boa notícia. Especialmente se formos pessoas normais e percebermos que as pessoas eram, que as pessoas têm impulsos, que as pessoas têm necessidades várias. Senão formos uns chatos. Se a Clara tem três períodos de férias por ano porque tem que passar os três comigo? Se a Marta tem um grupo de cinco amigas com quem ia jantar às sextas antes de me conhecer porquê que tem deixar de ir? Se o Pedro gosta de beber uns copos com o Raúl porque não o vai fazer? Bem, em todo o caso, a opção é da própria pessoa: Pode decidir ficar ou não na relação mediante o que o João faz ou deixa de fazer. O que não pode nunca, insisto, nunca, é moldar o João às suas linhas vermelhas. Essa ditadurazinha, essa compressão do necessário oxigénio da relação vai dar molho a muito curto prazo.

 

Por último, as pessoas aprendem pouco com os erros. Em tudo. Tendem a persistir e a repetir erros na expetativa que algo muda. Não muda. Admito a construção da personalidade até aos 22, 23, 24 anos. Com um pico hormonal ali aos 16,17,18,19 que potencia parvoíces. Muito bem. Depois disso, as pessoas não vão mudar radicalmente. Podem fazer mudanças, importantes…mas, importantes na sua maneira de ver. Que façam sentido com os seus critérios. Não porque são impostas. É mais ou menos isto: Se eu pedir à Mariana para sair dos escuteiros provavelmente ela vai pedir o meu internamento. É estúpido. O que é que eu tenho que ver com a Mariana andar nos escuteiros? Se eu lhe pedir que no Sábado dia 24 não vá aos escuteiros porque gostava de fazer aqui um convívio com mais uns quantos amigos comuns isso pode ter sentido. Mas mesmo que ela recuse eu só tenho de aceitar e, no final do dia, verificar se isso ultrapassou ou não uma linha vermelha. Numa ideia: O ponto não é se o Bruno (já corri os nomes quase todos e começa a faltar a imaginação) olha para as pernas bem torneadas da Jéssica. Claro que olha. Ou claro que não olha, é com ele. Mas em 99,9% olha. O ponto é se o Bruno é sincero o suficiente para assumir isso – que devia ser porque isso é a coisa mais normal do mundo – e se a Alexandra é suficientemente inteligente para perceber que lhe mandar um calduço e perguntar para onde está a olhar é estúpido, demonstra incompreensão pelo que é a raça humana, não evita que ele olhe e aumentou a tensão naquela relação contribuindo um pouco mais para o seu fim. Em última análise perguntar-se-ia: Qual é o mal. É profundamente natural que o Bruno olhe e deveria ser profundamente natural que o Bruno o pudesse assumir e até conversar com a sua namorada.

 

Mas mesmo com relações acabadas as pessoas tendem ao seguinte comentário: Eu não fiz nada de mal. A culpa é do outro. O outro tinha problemas passados. Tinha relações mal resolvidas. A outra era uma galdéria. Enfim. Entramos na fase em que a pessoa é pior que o guarda nazi. Simplesmente porque optou por outra situação. É chato, sim. Mas existem pomadas para isso. Não se passa para a ofensa gratuita. O falhanço de uma relação, de uma start-up, de uma associação de voluntariado ou da barraquinha de venda de caipirinhas tem uma coisa muito boa: Uma biblioteca fantástica com erros cometidos. Deve ser estudada, apreendida e, depois, com base nisso vamos evitar novos erros. A próxima relação correrá melhor. E terá menos hipóteses de falhar.

 

Parece difícil mas não é. Respeito pela liberdade individual da outra pessoa, não imposição dos nossos valores aos outros e, finalmente, estabelecer bem os nossos critérios e ser assertivo com isso.

 

tmgmendonca@gmail.com

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