Férias – Uma farsa! O mito do work-life balance
Para muitos estão a acabar as férias. Aquele período do ano onde são postadas com grande energia fotos de águas cristalinas e verdadeiros postais com imagens paradisíacas. A verdade é que ao mesmo tempo que o trabalho nos consome mais e mais tempo, num espetáculo mais ou menos deplorável de venda
Para muitos estão a acabar as férias. Aquele período do ano onde são postadas com grande energia fotos de águas cristalinas e verdadeiros postais com imagens paradisíacas.
A verdade é que ao mesmo tempo que o trabalho nos consome mais e mais tempo, num espetáculo mais ou menos deplorável de venda de horas em troca de pagamento de contas, venda essa que, desenganem-se, não se traduz às sete ou oito horas que compõem o horário de trabalho, mas, na verdade, a quase todo o tempo existente, graças, também, à cavalgada das correntes dos meios tecnológicos (a oferta, aparentemente simpática do telemóvel de serviço em troca de uma disponibilidade quase total para atender as chamadas ou responder a uns quantos e-mails ou do computador portátil exigindo-se uma disponibilidade de trabalho a partir de casa) das horas extraordinárias, quase sempre não pagas, dos mínimos tempos para almoço que obrigam, na prática, a que pessoa fique retida junto do seu local de trabalho com as mesmas pessoas com que trabalhe, enfim, das deslocações a hora de ponta que fazem com que o tempo verdadeiramente livre se resume a 1 ou 2 horas por dia e a mais algum no fim-de-semana, embora, também aqui, boa parte desse tempo seja gasto em recuperar energias para mais uma semana de trabalho e não propriamente em lazer.
Enfim, que chegam as “férias”. Um mês, por ano. Pago principescamente. Nesse mês, trabalhamos zero horas e recebemos dois ordenados (o ordenado do mês + o subsídio de férias). A cenourinha que nos faz correr. O pior negócio do mundo: 11 meses de entrega total por um mês de alguma paz – quando isso é possível.
Este esquema perverso vem sendo alimentado pela ideia, creio que errada, de que as pessoas estão muito preocupadas com o equilíbrio da vida e do trabalho, numa ideia de existirem períodos muito definidos entre o tempo de trabalho e o tempo de descanso. Não tenho ideia que a maior parte das pessoas queiram isso. Parece-me que prefeririam poder, de vez em quando, tirar uma tarde só para ir beber umas bjecas descansados. Ou fazer três ou quatro semanas de quatro dias para terem consecutivos fins-de-semana grandes. Ou que não se importariam nada de ir sábado de manhã trabalhar por troca com a segunda de manhã. Ou ainda, que talvez uma hora de almoço de quatro horas, que permita ir almoçar fora da cidade, ou ir simplesmente a casa fazer uma sesta ou ler um bom livro seria bem mais interessante. A tal ideia do work-life blend, ou seja, uma mistura das esferas pessoas e profissionais. Pode acontecer, que tenha um período “morto” às 22horas e que nesse momento seja conveniente responder a um e-mail com um orçamento. Mas pode bem acontecer que às 4 da tarde me apeteça antes ir dar um mergulho à praia.
O sistema que ainda vigora em muitas empresas é absurdo. É a ideia do presencialismo. O que interessa é se o corpo da pessoa está naquela cadeira, naquela secretária. O que interessa é a pessoa estar, independentemente do que produz. Releva-se uma disponibilidade de 24 horas por dia.
Enfim, um negócio que consiste numa escravidão dos tempos modernos. Para a qual todos contribuímos e todos temos culpa.