Desculpas são para perdedores.
Desculpas são para perdedores. Não existe outra maneira de o dizer: Muito poucas pessoas têm a qualidade de assumir os seus erros na medida em que não têm a capacidade de suportar com o peso do falhanço. Existe uma verdadeira conspiração tácita e não intencional que mantém as pessoas neste plano
Desculpas são para perdedores.
Não existe outra maneira de o dizer: Muito poucas pessoas têm a qualidade de assumir os seus erros na medida em que não têm a capacidade de suportar com o peso do falhanço. Existe uma verdadeira conspiração tácita e não intencional que mantém as pessoas neste plano de desculpabilização. Muitas dos que nos rodeiam, sem quererem, pensando no nosso bem, acabam por nos manter neste estado de negação.
Isto é negativo por vários motivos: Em primeiro lugar as pessoas ficam a viver numa realidade virtual paralela completamente distante, é certo, dos problemas mas, ao mesmo tempo, completamente distante das soluções e, inerentemente do sucesso.
Em segundo lugar porque falhar é ótimo! Como dizia o grande Mandela: “Ou ganho ou aprendo”. A derrota é uma excelente aprendizagem (prática!) para preparar grandes vitórias. Podemos ler mil livros ou ir a quinhentos seminários que nada é tão valioso como a nossa experiência prática.
Por último porque as desculpas são absolutamente desgastantes. A verdade é que ninguém tem muita paciência para nos ouvir desculpar. Isso retira imensa energia e não é nada produtivo. Não se ganha nada numa conversa em que uma pessoa passa o tempo a dizer que a culpa não é sua. É que se for, realmente, esse o caso, e, de facto, o fator que proporcionou determinado falhanço for completamente exógeno então é uma pura perda de tempo sequer pensar nisso pois estaremos a canalizar energias para algo que não podemos controlar ao invés de as aplicarmos naquilo que depende de nós.
Existem, quanto a mim, quatro grandes tipos de desculpas:
1. Sorte/Azar. Talvez a mais típica. Não tive sorte. Eu sabia todas as perguntas que fizeram aos meus colegas antes de eu ser chamado mas as minhas eram muito mais difíceis. Eu sabia tudo mas naquele dia fiquei com uma dor de barriga, que azar! Fomos eliminados porque nos calhou o adversário mais difícil de todos! Enfim, claro que a sorte – ou os desígnios divinos para quem como eu é crente – existe. A tal “estrelinha”. Existem dias em que tudo parecer correr mal e outras fases em que tudo parece correr de feição. Mas que diabo! Mas existe muito além ou aquém da sorte. Talento trabalho, perseverança. Boas decisões, pragmatismo, reconhecimento de erros. Portugal terá tido imensa sorte na forma como ganhou o Euro2016, mas, então e não existiu competência? Entreajuda? União? Talento? Evidentemente que sim.
2. Incapacidade Própria: “Eu não sou capaz”, “Eu não sou suficientemente bom”, “Se isso fosse possível alguém já o tinha conseguido”, “Estas coisas só acontecem aos outros”, “Não sou inteligente”, etc. Boa parte do coaching de hoje tem sido apontado a estes problemas. Despertar capacidades “escondidas”, fazer acreditar em potencialidades existentes. O problema é que se exagerou. Do Ama-te ao és capaz de tudo. Um exagero e uma mentira “piedosa” que tem os mesmos efeitos que já conversámos: Preservação numa realidade paralela. Não somos todos capazes de tudo. Eu teria muitíssimas dificuldades em ser jogador de Basket. Eu nunca serei fantástico a falar inglês. Eu nunca farei um desenho fantástico. Eu não tenho jeito nenhum para pioneirismo. Talvez não seja grande ideia passar-me o conceito de que que se eu quiser posso ser jogador de NBA. Talvez a probabilidade de isso vir a acontecer seja muito inferior a ganhar o Euromilhões. Não tem problema de sermos pragmáticos e simplesmente afirmar: Não, isso não é para ti. Mas isto sim. Foca-te nisso, e nisso podes ser dos melhores. E existem coisas em que sou realmente bom: Tenho uma boa oratória, sou muito bom a fazer planos, tenho uma capacidade de trabalho elevada, sou criativo e tenho jeito para vendas. Vamos pegar nisso e tentar despertar todas as potencialidades criando uma boa oferta de valor. Mas depois somos estranhos: Se eu referir: Sou muito bom em oratória, a reação quase sempre é: Olha este convencido! Estúpido! Que arrogante! Olha este com a mania! Numa ideia: Quando alguém assume que não é bom em algo, perdemos horas a convencer essa pessoa do contrário. Quando a pessoa pragmaticamente assume que é boa em algo perdemos horas a convencer a pessoa que não é. Estranho.
3. Uma terceira desculpa frequente é mais abstrata: A culpa é do governo, dos impostos, do mercado, da crise. O governo, os ciclos económicos ou os impostos são simplesmente realidades hétero definidas. E afectam todas as pessoas de uma maneira idêntica. Estamos, em Portugal, a terminar uma fase cíclica ascendente. Suponho que em 2019, máximo, 2020, vai existir uma pequena crise de intensidade menor que aquela que passámos anteriormente e teremos depois alguns anos recessivos até se voltar a inverter o ciclo. É assim desde que há registos, ou seja, desde o século XIX. A Economia é cíclica e os ciclos curtos têm uma duração de 7 a 11 anos onde se contam fases de ascensão crise e recessão. Já sabemos que vai existir. Preparação dessa fase é o que depende de nós.
4. A quarta desculpa é a mais comum: Os outros. A culpa é do árbitro, do professor, do amigo, da namorada que optou por ir viver com o Carlão. Nas notas académicas é o pão nosso de cada dia: O Professor não gosta de mim! O Professor não vai com a minha cara! Com outro professor teria passado! Não beneficiamos nada com esse tipo de discurso. Além de muito provavelmente ser uma mentira pegada, mesmo que não seja, dizermos isso não leva a lado nenhum. O ponto é: Como podemos ultrapassar essa dificuldade? Nas relações amorosas, idem: Seis meses a chorar porque a namorada preferiu mudar-se para a casa do ex-melhor amigo é só estúpido. O “mercado do amor” é fortemente concorrencial e não existe nenhuma razão para pensarmos que no ciclo de uma vida não podemos ser batidos pela concorrência. Faz parte. Mais: Essa troca, quase sempre, tem como contributo atitudes nossas. Se pensarmos no que fizemos mal e no que podemos melhorar da próxima vez vai correr melhor. Conversas de amigos como “ela é uma cabra”, “ela não te merece”, “ele anda com todas”, “arranjas um tipo melhor com certeza” são absolutamente inúteis e contraproducentes.
Numa ideia: Até podemos reparar que a causa próxima do insucesso foi uma ponta de azar ou que chegámos mais rápido à falência porque o ciclo económico inverteu. O Chefe pode ter sido injusto ou o Professor incompetente. Tudo isso são variáveis do jogo. Retirando o caso de doenças mortais ou muito graves não dependentes de comportamento humano tudo o resto sofre impacto com as nossas atitudes.
Conversas como: És capaz de tudo / Não és capaz de nada ou Não te preocupes o Professor é que foi injusto / O Chefe prefere a Anabela ou ainda Estão todos assim, é a crise! / Quem é que se aguenta com impostos tão altos? são absolutamente contraproducentes. Até podem ser bem intencionadas.
Eu percebo que a Maria Francisca não queira ser bruta com a amiga, a Natália, e lhe prefira dizer: Sim, esse namoro ainda vai dar certo. Má amiga. O João já lhe pôs os palitos 53 vezes, está se nas tintas para ela. Não, não vai resultar. Pode e deve ser bruta ou agressiva com a amiga. Pragmatismo. E mais vale cortar imediatamente, fazer uma avaliação do que se contribuiu para o fim da relação, aprender com isso, melhorar, que a próxima corre melhor. Levar a Natália para um mundo paralelo não é mesmo boa ideia. E, Natália, não a culpa não e só do João. Lembras-te daquela má resposta? Lembras-te de quando foste ver o telemóvel ou o proibiste de ir sair com os amigos, logo ao início? E, Joana, sim o Professor não gosta de ti. Mas sabes porque não gosta? Lembras-te de chegares atrasada? De não cumprires com a tarefa que te foi dada ou daquela apresentação horrível porque não te esforçaste nem um bocadinho?
Desculpas – Out. Pragmatismo – In.