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Amor ou “Amor”?

Como ponto prévio acredito que ninguém possa estar numa relação senão estiver bem consigo próprio. Existem imensas valências importantes na vida de uma pessoa: Satisfação no trabalho, um sólido grupo de amigos, estabilidade familiar, sucesso, sobretudo saúde. O relacionamento com essa pessoa parte de uma perspetiva de acrescentar algo mais.

Como ponto prévio acredito que ninguém possa estar numa relação senão estiver bem consigo próprio. Existem imensas valências importantes na vida de uma pessoa: Satisfação no trabalho, um sólido grupo de amigos, estabilidade familiar, sucesso, sobretudo saúde. O relacionamento com essa pessoa parte de uma perspetiva de acrescentar algo mais. Uma nova camada num bolo por si só já bastante bom. Uma camada importante, saborosa. Mas uma camada.
Acredito que uma relação amorosa se possa traduzir matematicamente de forma simples:
1+1=3.

 

As pessoas conservam todas as coisas simples que tinham em período anterior ao namoro e acrescentam um espaço comum de coisas fantásticas que são para ser partilhadas. De um ponto de vista mais romântico o próprio amor. De um ponto de vista mais sexual a troca de prestações sexuais (o prazer mútuo). De um ponto de vista mais económico as economias de escala (renda partilhada) e a mitigação de riscos (por exemplo em caso de desemprego). De um ponto de vista social um conhecimento dos amigos do parceiro/a. Enfim, para alguns que assim o desejam, os filhos.
O problema é que muito se esquecem disso. Fico apavorado quando vejo por aí a bandeira que se dá, por exemplo no facebook, das relações. Choca-me. Quase sempre se cai no erro da possessão. Como se de uma coisa se tratasse. A própria expressão o meu namorado ou a minha namorada arrepia-me. Porque não: A Joana, a Rute, a Lurdes, o António, o Dário, o Filipe. As pessoas não são de ninguém. Estão com alguém.
Essa possessão é motivada sobretudo por duas razões: Medo e sobrevalorização do sexo.
Já aqui volto.

 

Vejo por aí fotos de perfil conjuntas, vejo por aí marcações homem-a-mulher constantes em tudo o que é publicação, vejo que ninguém pode ir a um jantar sem o outro ir atrás, vejo que é impensável que alguém vá fazer uma viagem só com uma amiga, vejo que é impensável que o namorado troque umas mensagens com uma amiga. Existe uma espécie de regulamento interno. De normas de conduta que devem ser respeitadas. E que, invariavelmente, conduzem a um afunilamento.

 

Esse afunilamento leva a que o resultado da soma 1+1 cada vez se aproxime mais do 2 do que do 3. O espaço comum do amor está agora a começar a consumir o espaço próprio de cada um.
Torna-se impensável dar duas horas ao Benfica no dia dos namorados e não ir jantar com a namorada. Que loucura. É impossível que alguém passe o dia inteiro de folga nos escuteiros enquanto o parceiro esteja em casa. É gravíssimo. E se for ir jantar com dois amigos com quem se trabalhou e chegar-se às tantas com um grau moderado de alcoolemia? Ui, ui, ui que temos o caso mal parado.
Normalmente dá merda.

 

As pessoas acham que por fazerem um controlo, uma marcação cerrada podem evitar que o seu pior medo suceda. Ficarem sem a pessoa que “amam”. Bem, não é bem a pessoa que conheceram. É a pessoa que moldaram àquela relação. Já não é o tipo brincalhão que jogava futebol com os amigos às quintas, não é rapariga que ia ao teatro com as amigas à sexta. É outra coisa qualquer. Normalmente as relações acabam com a seguinte frase: “Já não sinto o mesmo”, ou “Já não és a pessoa que eu conheci!”. Pudera!
Mas parte-se de uma premissa totalmente errada. De que o controlo e a monitorização conduz a resultados que desejamos. Isso é a maior mentira.
Vamos ser honestos: O impulso biológico é a poligamia. Isso está provado. A monogamia é uma construção social. Em que alguém oferece a sua fidelidade como símbolo de um compromisso, de que é digno de confiança em troca de fidelidade recíproca. A monogamia exige esforço. Não se pode querer o melhor dos dois mundos.

 

E é por exigir esforço que deve ser aplaudida. E não imposta. Existe uma única forma da pessoa ser monogâmica: Percebendo de forma evidente que a pessoa com quem está é a melhor. Se essa pessoa for a melhor certamente que não se irá procurar fora o que se tem dentro (não estou a falar de sexo, estou a falar de relações emocionais). E, se essa pessoa for a melhor, mesmo que se procure fora vai se chegar à conclusão que mais valia ter estado quieto.
A única coisa que quem ama pode fazer é esforçar-se diariamente por ser o melhor namorado/concubino/unido de facto/marido do mundo. É isso que tem de fazer. Tem de fazer porque ama a outra pessoa e a quer ver feliz e porque é de facto a única coisa que pode evitar que se consome os nossos medos.

 

Mas sobre o medo temos de ressalvar: O maior medo dos casais é que o parceiro dê uma pinada à terça à tarde com outra pessoa. Esse é o derradeiro medo. O que será que acontece ao mundo se a Joana numa terça feira solarenga se resolver amantizar com o Norberto. Se isso acontecer é uma penalidade gravíssima. Com direito a expulsão, a divórcio e a mandar o sofá pela janela. Mas, se a Joana trocar mensagens e procurar apoio emocional no Rui, se preferir a companhia do Rui e, provoquemos, se enquanto tem relações sexuais com o seu marido estiver a pensar no Rui, já não tem problema. Afinal não traiu. Mesmo que apenas não traía porque simplesmente não consegue ou não tem com quem.

 

Estou com uma namorada há muitos anos. É uma pessoa fundamental na minha vida. Não me imagino a viver sem ela. Logicamente tenho medo que um dia a perca. Tive medo quando há um ano atrás foi mordida por um macaquinho não fosse ter apanhado uma doença grave. Tive medo há umas semanas quando teve um início de pneumonia. Tive medo quando eu estive internado de não ter hipótese de gozar as coisas boas da vida com ela.
O meu medo não é que ela num fim-de-tarde invernoso tenha vontade de ter relações sexuais com um surfista de cabelo descolorado. Um tipo com um mínimo de autoconfiança (que todos devemos ter sejamos altos ou baixos, gordos ou magros, morenos ou loiros, etc.) dirá ela é que perde. O melhor está aqui. E é isso mesmo. A mim não me incomoda particularmente a ideia de eu estar a dar uma conferência na Argentina e dela ter uma relação sexual com esse surfista de cabelo descolorado.

 

A mim o que me incomoda é que sei que se ela fizesse isso, tendo em conta o seu padrão de valores e a maturidade dos quase 30, significaria, muito provavelmente que gostava mais dele do que de mim. Que preferiria ir ao sushi com ele ou que queria ir ver um filme lamechas qualquer com ele. Isso seria terrível. Um rude golpe mas com a perceção de que também significaria que eu não tinha sabido ser o melhor.

 

Se as coisas não tivessem ligadas, e me perguntassem: Preferes que a tua namorada troque um boa noite querido todas as noites com o Rui, vá ao cinema de mão dada ver uma comédia qualquer com o Bertino ou tenha uma relação sexual com o Jason, um surfista norte-americano que nunca mais ver, não hesitaria em escolher a terceira. Mas vejo muita gente que acha que não. Que ir almoçar todos os dias com a colega e falar de todo e qualquer tema é impecável (e pode, realmente, não significar nada) mas que uma relação com um acompanhante de luxo em Las Vegas que nunca mais vais ver é gravíssimo.
Tenho a certeza absoluta que se lhe perguntasse em relação a mim ela diria o mesmo.
Não com o Jason!Irra.Mas com uma Jennifer desta vida.

 

As pessoas quando se relacionam ao lado desse sentimento de superioridade, possessão, ciúme doentio e, aqui e ali, algum machismo, enfiam-se numa espécie de cápsula. Fechada. Sem ar. As relações só funcionam com ar. Com flexibilidade. Com a perceção de que somos mais uns para ajudar à felicidade daquela pessoa. No mesmo patamar de alguns familiares, dos amigos, do Glorioso, dos Escuteiros, do teatro com as amigas, da viagem a Bali com uma grande amiga, sim, da ida a uma casa de prostitutas numa qualquer despedida de solteiro.
É que amar é uma coisa e “amar” é outra.
E se a coisa der para o torto? As pessoas têm todas uma certa miopia. 75% dos casamentos contraídos agora dão em divórcio.

 

Mas o meu nunca dará! Eu sou especial. Claro que podemos ter fatores protetores que nos podem dar uma maior possibilidade de “sobrevivência”. A flexibilidade, o respeitar o espaço do outro, a luta diária para ser melhor, a perceção de que não temos de ser o centro da outra pessoa, o abandono de ideias como a possessão. Se fizermos isso temos mais chances. E, claro, se respeitarmos a outra pessoa. Se simplesmente não fizermos à outra pessoa aquilo que não queremos que essa pessoa nos faça. Se compreendermos. Se conversarmos.

 

Se a coisa der para o torto vamos precisar de todas as fatias do bolo. Da família, dos amigos, do nosso trabalho, de saúde, dos nossos livros, das nossas viagens, das nossas coisas. Se nos encasularmos numa relação mandamos isso tudo à fava (menos a saúde talvez). Quando precisarmos (precisamos sempre, mas mais decisivamente) dessas camadas onde é que elas estão? Que legitimidade terei eu para exigir a um amigo que simplesmente nunca mais quis ver porque tinha namorada que agora deixe a sua em casa para vir beber uma cerveja comigo e para eu desabafar?

 

As pessoas preocupam-se demasiado com o facto do Rodolfo ter nos últimos três contactos do Messenger raparigas ou da Nádia ter uma conversa arquivada no Whatsapp com o Rodrigo. Mas preocupam-se pouco com o facto da Nádia andar triste porque prometemos ir ao cinema há três semanas mas a merda do emprego consome-nos o tempo todo e nunca vamos. Estamos nas tintas para o facto do Rodolfo valorizar que visitemos a sua família mas exigimos saber que cheiro a perfume é aquele no seu casaco.

 

Fotos de perfil, marcações constantes com comentários em todas as fotos que o companheiro mete, vasculhar o telemóvel, estar presente em tudo o que é jantar dos amigos da outra pessoa, apenas ir a coisas se a mulher acompanhar, exigir que não existam conversas no Messenger…é ridículo.

 

Não vou dizer nomes mas existe uma relação que para mim é um modelo. Um modelo de compreensão, de verdadeiro amor, de celebração, de gozar as coisas boas da vida. E de modernidade. De flexibilidade. Para mim, do que conheço, a relação que se aproxima mais da perfeição (perfeito não é nunca discutir, não é nunca ter uma crise de ciúmes). Uma relação para a frente. Do século XXI.

 

As pessoas em causa têm entre 70 e 80 anos.
Vejo aí malta com 20’s e 30’s que é uma tristeza. Coisas um bocado sovietizadas. A relação entre um agente da PIDE e com uma fiscal da EMEL. Ridículo.

tmgmendonca@gmail.com

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