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Discurso 25/4/2017 em Sessão Solene da Assembleia Municipal de Loures.

Exma. Sra. Presidente da Assembleia Municipal, Exma. Sra. 1.ª Secretária da Mesa da AM, Exmo. Sr. 2.º Secretário da Mesa da AM, Exmo. Sr. Presidente da CML e demais vereadores, Exmas. Sras. Deputadas Municipais, Exmos. Srs. Deputados Municipais, Exmas. Sras. e Exmos. Srs. Trabalhadores da CML, Exmos. Convidados e, Exmo. Público que hoje nos acompanha nesta sessão evocativa

Exma. Sra. Presidente da Assembleia Municipal,

Exma. Sra. 1.ª Secretária da Mesa da AM,

Exmo. Sr. 2.º Secretário da Mesa da AM,

Exmo. Sr. Presidente da CML e demais vereadores,

Exmas. Sras. Deputadas Municipais,

Exmos. Srs. Deputados Municipais,

Exmas. Sras. e Exmos. Srs. Trabalhadores da CML,

Exmos. Convidados e,

Exmo. Público que hoje nos acompanha nesta sessão evocativa do 25 de Abril de 1974.

 

Foi há 43 anos.

 

Eu, como outros não sei o que é viver fora do quadro democrático.

 

Mas sei que a revolução de 1974, o 25 de Novembro de 1975, a Constituição de 1976, a alteração do Código Civil em 1977 e a revisão constitucional de 1982 foram passos decisivos para a instituição da democracia no nosso País.

 

Para muitos, onde também me incluo, não sabemos sequer dissociar Portugal da Europa Comunitária, cumprindo-se agora 31 anos da adesão portuguesa à então CEE. Uma europa de liberdade de circulação. De liberdade para sonhar.

 

A instabilidade política que hoje assistimos, com o proliferar de conflitos armados um pouco por todo o mundo, a banalização do terrorismo, a ameaça populista e a potencial imprevisibilidade no nosso crónico parceiro atlântico obrigam a que o bloco europeu se torne mais forte e coeso. Porém, na ordem do dia está a dicotomia sul-norte, a reboque de soundbites que sendo infelizes não deixam de ser apenas soundbites. A espuma dos dias que quase sempre nos impede de observar o que realmente interessa.

 

Muitos viveram antes da revolução de Abril que hoje lembramos. Esses sabem melhor que eu que muitos dos problemas que aí se colocavam – penso exemplificativamente na liberdade de reunião, manifestação ou de imprensa e numa confessa mitigada assistência social – não são os mesmos que hoje se colocam ou, pelo menos, não de forma tão intensa.

Permitam-me que me debruce precisamente sobre a situação daqueles que nasceram depois do 25 de Abril de 1974. O que é afinal a liberdade para um sub-40?

 

É com toda a certeza sentir que pode com facilidade ir de Lisboa a Varsóvia sem mostrar um único documento. Que se pode estudar em Londres, trabalhar em Madrid e ir passar férias a Reyjavik. É sem dúvida o espírito de aldeia global. Pergunto: O que temos feito para proteger esse espaço?

 

E que ilusões vendemos à geração que hoje tem 30 e poucos anos? E que continuamos a vender aos jovens de 20 anos? Estuda muito para entrares numa boa universidade, continua a estudar muito para arranjares estágio, trabalha ainda mais para ficares na empresa, continua a dar tudo para chegares ao topo da firma…e nisto voaram 50 ou 55 anos onde o equilíbrio entre a vida e o trabalho foi completamente defraudado.

 

A dita geração mais qualificada de sempre. A oferta de mão-de-obra é hoje claramente excedente à oferta de emprego. Numa primeira fase julgou-se que se poderia diferenciar pela qualificação. Começámos na exigência do 9.º ano, depois o 12.º, ontem a licenciatura, hoje o mestrado, amanhã o doutoramento, depois o pós-doutoramento. O mercado não absorve, simplesmente, tanta oferta. Num caso que conheço em especial, o da advocacia, passou-se de 5.000 advogados no início da década de 80 para 30.000 nos nossos dias. É simples: Mais procura a pressionar a oferta, o preço para se trabalhar sobe o que significa salários mais baixos. A remuneração que antes dava para um advogado hoje tem de ser dividida por seis!

 

O drama desta geração está na chantagem que está ínsita à oferta de emprego. Aproveitando-nos do velho chavão “tens contas para pagar” afirmamos: tens aqui este trabalho, estima-o bem. És um sortudo. Agora trabalha 16 horas por dia, recebe 3 euros à hora e não bufes. Não vês os teus filhos? Não faz mal. Na reforma vês os filhos e os netos. É esta a falta de liberdade de que nos podemos e devemos queixar em pleno século XXI 43 anos volvidos da revolução de Abril.

 

Pensar que isto se resolve apenas com leis é pura ignorância. Ou hipocrisia. Resolve-se, acima de tudo, com verdade, transparência e pragmatismo. E com a defesa de que de facto existe um espaço europeu e mundial que pode ser aproveitado pelos melhores: Os portugueses. Sim, eu acredito que somos o melhor povo do mundo!

 

Podemos optar pela crítica fácil, mais uma vez pela espuma dos dias. Podemos ficar meses a aproveitar uma tirada e a insistir que um primeiro-ministro convidou portugueses a emigrar. Ao mesmo tempo que sabemos que um radiologista recebe em Dublin 4 vezes mais que em Lisboa. Que temos amigos que foram receber o dobro em Amesterdão ou que conhecemos alguém que abriu uma unidade hoteleira em Bali e está a ter um sucesso retumbante. Uma palavra: Hipocrisia.

 

A atenção dos políticos tem sido demasiadas vezes toldada pelo discurso fácil e populista – com o nível de preocupação que isso deve acarretar – vejam-se os múltiplos casos de preocupante ascensão extremista na europa (exemplificando: Itália, movimento cinco estrelas, Alemanha subida da extrema-direita em eleições regionais, Espanha com o Podemos, Grécia com o Syriza coligado com a Aurora Dourada numa coligação de extremos, França com a Sra. Le Pen, ascensão da extrema-direita na Holanda, o Brexit ou a vitória de Trump). Preocupamo-nos com os soundbites, com a caixa de ressonância da comunicação social. Com a pequena vitória num debate televisivo.

 

Governa-se para não perder votos em vez de se governar para fazer as reformas estruturais de que Portugal, a Europa e o Mundo necessitam para garantir a liberdade do século XXI.

Apenas por ignorância ou por hipocrisia podemos alinhar em discursos protecionistas mega utópicos de que podemos resolver tudo sozinhos. Sabemos onde isso nos levou. Não queremos isolacionismo. Queremos comunidade. Uma Europa forte e de oportunidades. Em que um português possa ser um excelente profissional em Lisboa mas também em Estocolmo se assim o desejar. E em que possamos ter um médico dinamarquês no Hospital Beatriz Ângelo e um natural de Frielas a trabalhar num grande banco em Liubliana. Sem dogmas.

 

É a hipocrisia que nos faz falar de um ministro das finanças holandês dias a fio e não falarmos de como resgatar os nossos jovens de um quadro de empregabilidade miserável que resulta de um cocktail de precariedade, chantagem e desrespeito pela vida pessoal e familiar.

 

Sem dúvida que precisamos de uma nova revolução. De mentalidades. Mas preferimos continuar amorfos. Resignados.

 

Coloquemos o cravo na lapela, gritemos vivas ao 25 de Abril de 1974. Faz sentido. Mas e o que temos a dizer sobre o 25 de Abril de 2017?

 

Muito obrigado.

 

 

Frielas, 25 de Abril de 2017

 

Tiago Mendonça – PPD/PSD

 

tmgmendonca@gmail.com

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