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Vida saudável: Um desígnio para Loures e para Portugal

Loures é um concelho extraordinariamente diverso agregando uma malha urbana, industrial e rural. É, como poucos, um concelho que espelha os problemas da globalidade do país. Pensar Portugal será sempre Pensar Loures.   Os avanços médicos permitiram que a esperança média de vida no nosso país aumentasse significativamente. Hoje a esperança média

Loures é um concelho extraordinariamente diverso agregando uma malha urbana, industrial e rural. É, como poucos, um concelho que espelha os problemas da globalidade do país. Pensar Portugal será sempre Pensar Loures.

 

Os avanços médicos permitiram que a esperança média de vida no nosso país aumentasse significativamente. Hoje a esperança média de vida à nascença é de 81,3 anos[1]. Em 1960 era de 64 anos. No entanto, uma coisa é chegar a ser “velho” e outra bem diferente é, socorrendo-me do título de um conhecido livro, chegar-se “novo a velho”. Quando pensamos no indicador da esperança média de vida saudável aos 65 anos vemos que esse dado em Portugal aponta para os 6,9 anos[2]. Noutros países como a Islândia ou a Noruega essa expectativa é de 15,4 e 15,3 anos respetivamente. Mas mesmo em países aparentemente menos desenvolvidos que o nosso esse indicador é superior, veja-se o caso da República Checa (8,5 anos), a Polónia (7,5anos), a Holanda (10,7 anos), a Eslovénia (7,8 anos), a Bulgária (8,7anos) ou até a Grécia (7,7anos). Pior: Se recuarmos a 1995 vislumbramos que em Portugal essa esperança era de 8,3 anos. Ou seja, em menos de duas décadas (os dados são de 2014) perdemos quase 1 ano e meio de esperança média de vida saudável.

 

Essa vida saudável beneficia de uma concorrência de muitos fatores: Os já aludidos avanços médicos, o ambiente, a prosperidade, o exercício físico mas, de forma muito decisiva, a alimentação.

 

Os frangos carregados de antibióticos, a agricultura sujeita a um ritmo intenso e com carradas de pesticidas, os alimentos processados, o terrível inimigo que é o açúcar, o glúten, as comidas pré-feitas. Tudo a pensar numa sociedade sem tempo que fica verdadeiramente…sem tempo de vida saudável!

 

A má alimentação além de causar diretamente obesidade ou diabetes está na base da potenciação de múltiplas doenças gravíssimas como é o caso de alguns tipos de cancro. Trata-se, portanto, de um problema que deve estar bem no topo das prioridades políticas.

 

A agricultura biológica é uma resposta a estes problemas. A Dinamarca, prepara-se para no médio prazo, e por imposição legal, tornar-se o primeiro país com uma agricultura 100% sustentável. Por cá, os mercados biológicos (em expansão, é verdade) continuam a ser uma exceção. Por razões várias.

 

Educacionais/Culturais, Legais e Financeiras.

 

  • Do ponto de vista da educação pela total ausência de uma formação e sensibilização para este tipo de realidade. Nos cuidados de saúde primários quantas vezes o médico de família alerta para a necessidade de alteração dos padrões de consumo alimentares enfocando na necessidade de transferência do consumo de certo tipo de produtos para produtos biológicos? Nas escolas, urge que se contemple um momento para a disciplina de uma educação alimentar. É preciso que desde cedo se interiorize que se trata de uma questão de saúde pública! E não se alegue constrições financeiras: Os baixíssimos custos de implementação de um programa de formação e educação para a alimentação saudável seriam altamente suplantados pelo abaixamento dos custos no Serviço Nacional de Saúde com o tratamento de doenças originadas ou potenciadas pela má alimentação.
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    • Do ponto de vista legal exige-se a construção de uma edifício legal que, diga-se frontalmente, possibilite, por um lado, um apoio financeiro – benefícios fiscais, etc. – a quem já produz de forma sustentável e, por outro lado, que, no longo prazo, penalize quem não o faça. Claro que deve sempre existir um período de transformação. Deve ser dado tempo aos agricultores para passarmos de uma agricultura que raramente obedece a critérios de sustentabilidade para uma agricultura bio. E creio que cumprirá ao Estado fornecer o apoio – linhas de crédito sem juros, desburocratização, eliminação de barreiras jurídicas à entrada em alguns mercados – para que todos os agricultores tenham a possibilidade de fazer a sua transformação. Penalizando, no longo prazo, quem não o faça.

     

  • Financeiramente, alega-se que consumir alimentos biológicos é caro. É “mais ou menos” verdade. Em alguns produtos será, noutros nem tanto. Em alguns (por exemplo alguns tipos de fruta e legumes) até é mais barato consumir biológico. Fiz as contas e fazer um cabaz de compras mensal num mercado biológico pode custar mais 15% a 22% do que numa grande superfície comercial. Porque é que é mais caro? Porque existe pouca oferta. A procura pressiona a oferta e, já se sabe, os preços sobem. Se a oferta for superior os preços vão baixar. E baixam mesmo que a procura aumente ao mesmo nível porque o mercado de produtos biológicos abandonará paulatinamente um ponto do mercado mais próximo da concorrência imperfeita para se aproximar de um ponto de mercado mais próximo da concorrência perfeita. Em Economia dir-se-ia que aumentará a atomicidade e isso garantirá uma rebaixa dos preços per si.
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    É, portanto, urgente definir como objetivo para a próxima década a transformação do nosso país num país “biológico”. Assumir como prioridade a vida saudável. A saúde. Esse tem que ser o nosso desígnio principal.

    É por isso que os eleitos na Assembleia Municipal de Loures, reunida no dia 23 de Fevereiro de 2017 deliberam:

     

  • Exortar o Governo da República Portuguesa a definir como prioridade para a década a vida saudável, apostando fortemente na agricultura biológica.
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    • Colocar em prática um plano de formação/educação, que abranja desde as escolas aos centros de saúde, sensibilizando todos para a necessidade da alteração dos hábitos alimentares.

     

    • Estudar as melhores soluções jurídico-económicas que favoreçam a transposição da agricultora não biológica para a agricultura sustentável.

     

    Esta moção deve ser enviada a todos os grupos parlamentares com representação na Assembleia da República, ao Governo da República, ao Presidente da República, à Direção Geral da Saúde, à Direção Geral da Educação e aos meios de comunicação social nacionais e locais.

     

    [1] Dados referentes a 2014. Fonte: www.pordata.pt

     

    [2] Idem.

     

    tmgmendonca@gmail.com

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