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Agricultura biológica: Uma questão de saúde pública.

Algumas propostas para mudar o paradigma.   Hoje fui fazer umas compras aqui no mercado biológico mais perto e quando olhei para o talão refleti que muitas pessoas referem dos produtos biológicos serem muito mais caros que os produtos não biológicos. Creio que a comparação é sempre injusta porque estamos a comparar alhos

Algumas propostas para mudar o paradigma.

 

Hoje fui fazer umas compras aqui no mercado biológico mais perto e quando olhei para o talão refleti que muitas pessoas referem dos produtos biológicos serem muito mais caros que os produtos não biológicos.
Creio que a comparação é sempre injusta porque estamos a comparar alhos com bugalhos. Quer dizer não é igual fritar um bife em óleo, em azeite ou em óleo de coco. Não é igual utilizar o magnífico azeite que os meus tios da Serra da Estrela me deram ou comprar um azeite de marca branca. Não é igual comer um bife das Carnes Simões a comer um frango enxertado de antibióticos. Dito isto, propus-me a fazer uma comparação.

 

O que podem ver na fotografia são: uma dúzia de ovos biológicos, óleo de coco, dois pacotes de sal marinho grosso, ravioli de espinafres, duas garrafas de 1,5l de Água Glaciar, uns nachos vegan e sem glúten, um frasco de guacamole BIO, dois abacates e quatro iogurtes biológicos com aroma a stracciatella. Excluindo o guacamole que não vejo em nenhum supermercado nem tem propriamente um sucedâneo (ou se come ou não se come) gastei 18.32€ nestas compras.
Fui ao site do continente fazer a comparação com produtos não biológicos:

 

1. As águas (aqui comprei porque me dava mais jeito já que lá estava – não tenho nenhuma regra na compra das águas): Paguei 0,98€ pelas mesmas, enquanto por duas garrafas do Luso no Continente pagaria 0,76€. Ou seja gastei mais 22 cêntimos.

 

2. Quanto aos Ovos, comparando com os Matinados (uma classe inferior aos biológicos, mas superior aos normais) teria pago 2,66€ no Continente contra 4,38€ no mercado biológico. Ou seja gastei mais 1,72€. Neste momento já gastei mais 1,94€.

 

3. Quanto ao óleo de coco vamos comparar com um azeite. Por exemplo o Virgem Extra da Gallo. Pagaria pelo azeite 4,99€ e pelo óleo paguei 3,29€. Mas o Azeite daria para o dobro talvez. Pelo que admito que gastaria 6,58€ no óleo para ter a mesma quantidade. Ou seja, mais 1,59€. O que aumenta a minha conta para mais 3,53€.

 

4. Quanto ao Sal Marinho Grosso paguei pelos dois pacotes 1,78€. Se comprasse um Sal (se é que se pode chamar Sal) no Continente pagaria 0,52€. A minha conta subiu 4,05€ de diferença.

 

5. Quanto ao Raviolli a opção da Milaneza custar-me-ia 2,82€ enquanto paguei 2,79€. Aqui ganhei 3 cêntimos. A minha conta é maior em 4,02€.

 

6. Sobre os Nachos, da marca continente são 0,99€. Paguei mais um euro por estes. Aumentou a conta para 5,02€.

 

7. Nos abacates aqui paguei menos 1€ por quilo. E assim, por 230 gramas de abacate poupei 22 cêntimos. A minha conta baixou para 4,80€.

 

8. Por fim, quanto aos iogurtes paguei 0,49€ por cada um. Ou seja, 1,96€. Se comprar, por exemplo, o grego magro da Nestlé pagaria 2,69€. Aqui ganhei 73 cêntimos.

 

No final paguei mais 4,07€ do que por produtos não biológicos. No final paguei 22% acima do que senão comesse biológico neste caso. Admito que com algum cuidado (o caso das águas, neste caso terem sido produtos mais específicos do que frutas e legumes que quase sempre consigo preços iguais ou mais baixos) comprar Biológico seja 20% mais caro.

 

E 20% é importante: Uma família que gaste 200€ de compras por mês passaria a gastar 240€ em compras por mês. (e, claro, comparei com produtos médios, se em vez do grego for um produto de marca branca, ou o raviolli for de marca branca, aumenta ainda mais o diferencial…)
Sendo uma questão de saúde (creio que mais do que comer este ou aquele produto, é comer produtos com bastante qualidade) acho que era muito importante conseguir num prazo de cinco anos diminuir esta margem de 20% para 10%. E acho que existem duas vias para que isto aconteça. E, pasmem-se alguns, acho que este é dos poucos casos em que o Estado podia/devia dar uma boa ajuda.

 

1. Acho que deveria existir uma forte campanha de educação/formação na área da alimentação. Nas escolas, nos meios de comunicação social, no sistema nacional de saúde através das consultas com os médicos de família. Acredito que o que comemos pode ser tão ou mais determinante do que por exemplo certo tipo de vacinas. Não há nenhuma razão para que isso não aconteça.
Assim: Conseguiríamos que aquelas pessoas que podem gastar 20% a mais no seu orçamento para comida intensificassem a procura destes produtos. Com o aumento da procura, até posso admitir que numa primeira fase os preços subissem mas, num segundo momento, acho que muitos produtores iriam passar a adotar outro tipo de procedimentos e a oferta destes produtos seria muito maior. Nesse momento, os preços até poderiam baixar. Além disso, com mais produção nacional conseguiríamos diminuir as importações e também por aí baixar os custos.

 

2. O Estado também poderia dar um empurrão aos agricultores biológicos. Com incentivos fiscais a quem cumprisse algumas regras e com penalizações a quem não cumprisse. Também por aí se poderia conseguir que muitos produtores optassem pela via biológica.

 

3. Finalmente, deveria ser adotada legislação mais “dura” que obrigasse a que certos procedimentos de qualidade fossem garantidos.

 

4. A longo prazo, 10-15 anos, adotar a posição dinamarquesa e praticamente proibir a agricultora que não corresponda a padrões aproximados de agricultora biológica. Admito que aqui devessem existir incentivos estatais de apoio a essa transformação de processos, portanto, investimento público.

 

Além de pensar que o investimento na saúde é sempre o melhor, acho que o Estado até conseguiria não perder dinheiro com esta agenda. A verdade é que no longo prazo os ganhos disto permitiriam diminuir muitos custos no sistema nacional de saúde que mais que compensariam este investimento. Por outro lado, este tipo de investimento faria com que se contribuísse para um aumento das exportações e uma diminuição das importações o que, ainda que com um impacto delimitado, melhoraria a balança comercial. Mesmo os apoios à transformação, por via desse investimento público, seriam sempre muito reduzidos à luz dos programas de apoio comunitários e, mesmo que assim não fosse, poderiam revestir linhas de crédito com obrigação dos apoiados em devolver no longo prazo o dinheiro a juro 0%.
Esta agenda biológica estrutural, de longo prazo, verdadeiramente transformadora do paradigma poderia, sem dúvida, trazer mais resultados do que investimentos na reparação de danos na saúde.

 

Bio Life é Happy Life.

tmgmendonca@gmail.com

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