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O método dos escuteiros e o sucesso das start-ups. Tão simples que dói!

Sempre que alguém pensa lançar o seu empreendimento tem sempre alguns amigos pessimistas “à perna” que fazem questão de relembras as tenebrosas estatísticas da sobrevivência das novas empresas, alegando que 9 em cada 10 novas empresas têm uma “esperança média de vida” inferior a 3 ou a 5 anos.   Mais

Sempre que alguém pensa lançar o seu empreendimento tem sempre alguns amigos pessimistas “à perna” que fazem questão de relembras as tenebrosas estatísticas da sobrevivência das novas empresas, alegando que 9 em cada 10 novas empresas têm uma “esperança média de vida” inferior a 3 ou a 5 anos.

 

Mais importante que este dado estatístico teria interesse um maior foco no que é a resposta à simples e elementar questão: “Porque é que as empresas falham?”. Da mesma forma que apontarmos para uma estatística de 75 divórcios por cada 100 casamentos nos dirá muito pouco senão respondermos à igualmente simples e elementar questão: “Porque é que as pessoas se divorciam?” ou, mais atrás, “porquê que as pessoas se casam?”.

 

Na minha opinião um projeto empreendedor em que todos os passos são bem dados tem 100% de hipóteses de sucesso. Um outro em que o processo criativo do empreendimento seja desajustado tem 100% de hipóteses de insucesso. Numa ideia, creio que essa percentagem de insucesso dos empreendimentos (90%) é explicada de forma tão simples que – sem razão para tal – gera desconfiança: 90% dos empreendimentos têm falhas graves no seu processo criativo.
Impõe-se portanto a pergunta: Qual é o melhor método para criar um negócio bem-sucedido? Nova resposta que pela sua simplicidade pode chatear: Vá para os escuteiros!
Sim, os escuteiros. Os tipos de “pompons” nas meias.
By the way chamam-se jarreteiras.

 

Nos escuteiros aprendi a preparar e realizar um empreendimento – naturalmente tratavam-se de acampamentos. Qualquer acampamento: Desde um fim-de-semana num parque de campismo a 50km de Lisboa a um empreendimento em Kandersteg na Suiça. E verifiquei que em todos os empreendimentos que lancei ao longo da minha vida (na área associativa, política, empresarial, etc.) esse método é absolutamente infalível.
Algo de muito complicado? Claro que não! Algo que um adolescente entre os 14 e os 18 percebe e executa na perfeição.

 

Um empreendimento deve ter quatro fases. Se tiver três o empreendimento vai falhar. Se tiver cinco será perda de tempo (e de dinheiro!).

 

Escolha, Preparação, Execução e Avaliação.

 

1. A escolha
Muitos empreendimentos empresariais falham porque a escolha é errada. Um empreendimento para ter sucesso tem que servir para suprir uma necessidade. Não a minha necessidade, não a necessidade da minha bolha e muito menos a necessidade que eu quero à força toda que os outros tenham. Uma necessidade efetiva e manifestada pelas pessoas.
Depois eu tenho que ter características específicas – seja porque tenho dotações naturais para esse negócio, seja porque obtive formação especializada, etc – que me permitam cobrir essa necessidade com qualidade. Diria mais: Com excelência. De forma diferente da concorrência se a existir. E claro, que esse serviço seja prestado a um preço que seja suficientemente baixo para que exista procura e suficientemente alto para que eu possa obter o rendimento que necessito dessa prestação de serviços ou venda de bens.
Muitas pessoas escolhem negócios com base nas suas próprias necessidades, fazendo comparativos com outros que já existem há muitos anos e noutros países, ou com cálculos de custos, elasticidades e preços de mercado completamente ao lado.

 

Se eu sei que imprimir 5.000 exemplares de um jornal de 32 páginas me custa 2.000€ quanto dinheiro eu tenho de angariar? Existe necessidade ao ponto de alguém pagar por ele? Não? Então terá que ser tudo em publicidade. O jornal é suficientemente bom para fazer com que as marcas desloquem os seus recursos para essa forma de publicidade? Não faço ideia, só perguntando. E depois de bater a muitas e muitas portas com um protótipo posso perceber. Consigo angariar 3.000€. Vale a pena seguir em frente? Não. Só em distribuição conto com mais uns 500€. Basta um dos patrocinadores falhar e a margem encurta e rapidamente entro em dívida. Continhas.

 

2. Preparação
Existem boas ideias de negócio mas a preparação é terrível. O estudo de mercado é pessimamente feito – quando o é – procura-se ter um espaço incrível todo apetrechado e na melhor zona da cidade aumentando imenso os custos, pede-se um crédito à banca para investir, recruta-se sócios ou colaboradores quando não precisamos deles para absolutamente nada, gasta-se dinheiro em merchandising desnecessário. Por outro lado, corta-se no advogado (o que nos vai custar muito mais dinheiro à frente), contabilista não é preciso e não nos aconselhamos com ninguém relativamente ao posicionamento numa rede social. Afinal é só postar uma coisas no face. Todo esse trabalho de preparação – mal feito – vai deixar bem à vista muitos buracos. Numa primeira fase podem não serem logo notados mas depois de umas pequenas chuvadas vão desabar.
Num acampamento se eu não checkar primeiro, por exemplo, o estado das tendas, posso ter um grave dissabor na altura do oh-oh. É a mesma coisa.

 

3. Execução
Muitas empresas não chegam à fase de execução. Não chegam a ver a luz do dia ou abrem para fechar logo a seguir. Se estás na terceira fase já não é nada mau. A execução é o teste do empreendedor. Lembram-se das dezenas de folhas de excel que fizeram? Do road map ao metro que prepararam? Dos estudos de mercado e dos cálculos de elasticidade? Provavelmente vai estar tudo mal. Devemos então prescindir dessa preparação? Nunca! É melhor ir para um raid nocturno com uma mapa ligeiramente incorreto do que sem mapa! É melhor ir com metade dos mantimentos que precisamos por erros no planeamento do que ir sem mantimentos nenhuns!

 

Numa empreendimento há imponderáveis. Estou a pensar candidatar-me ao lugar político X: Lá volta alguém que se pensava afastado para trocar as voltas. Estou a pensar criar uma associação de voluntariado: Lá surge uma nova lei que troca as voltas. Mesmo no decorrer dos próprios empreendimentos empresariais existem sempre imensas variáveis. Tudo muda. Um novo concorrente, um abaixamento súbito de clientes, uma publicidade que não resultou, uma crítica que virou má reputação – e, não sejam pessimistas, muitas coisas boas que também não esperamos! Temos de ter capacidade de observar essas dificuldades como oportunidades para dar a volta por cima.

 

Eu diria que para a fase da escolha é preciso que se tenha um perfil atento e inteligente. Para a segunda fase – preparação – é preciso alguém extremamente disciplinado, focado, pragmático aqui e ali obcecado. Nesta fase da execução é preciso um empreendedor na sua mais ampla aceção: Capaz de virar a mesma quando as cartas não são as melhores. Um inventor. Um Macgyver.

 

4. Avaliação
As coisas estão a correr bem? Fantástico! Equipa que ganha não se mexe, é só rolar. E tanto rola que cai. A fase da avaliação é fundamental. Avaliar, avaliar, avaliar. Este ano ganhei 200.000€? Óptimo! O que tenho de fazer para ganhar 300.000€? Este mês foi muito mais fraco que os demais? Que estratégias posso adotar para o potenciar? Denoto alguma sazonalidade no meu negócio? Como a posso (se quiser!) combater? Que coisas correram particularmente bem e que possam ser replicáveis? De que forma é que um pequeno aumento de preços se repercutiria nos meus clientes? E uma rebaixa? Se eu contratasse outra pessoa qual seria o impacto? E se abandonasse esta parceria? Enfim, existem sempre mil variáveis a avaliar.

 

O que sei é que alguém que, em qualquer empreendimento, consiga fazer bem estas quatro coisas vai ter muito sucesso. Quem fizer mal uma delas creio que vai ter insucesso ou um sucesso muito limitado. E aqui entramos num outro tema que fica para outras núpcias que é o perfil do empreendedor: Que é ser um tipo inteligente, atento, bem relacionado, com capacidade de fazer pontes, sensível mas depois brutalmente pragmático, rigoroso, focado, disciplinado, com uma agenda bem trabalhada, mas que, ao mesmo tempo, tenha a liberdade e clarividência de ser um Macgyver capaz de rapidamente encontrar uma solução numa situação limite. Por fim, que não se acomode e que questione tudo.

 

É por isso que um bom empreendedor não será o tipo mais inteligente do mundo, mais rico do mundo, mais rigoroso do mundo, mais focado do mundo. Mas será o tipo mais completo do mundo. Não é o tipo que é um 20 numa característica e um 2 noutra. É um tipo que consiga ser completo. Razoável ou bom em todas.
A boa notícia é que algumas destas características podem ser aprimoradas, trabalhadas, limadas.

 

Se quiseres escreve-me e trocamos ideias!

 

Um abraço,
Tiago

tmgmendonca@gmail.com

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